O meu 2011 terá sido gasto ou ganho?

Já o natal estava gasto e entramos em 2011. Gastámos a noite entre amigos como habitualmente e sem dar conta chegou o ano novo. O Janeiro foi frio como todos o são. Gastamos tempo à espera do sol e alguma energia para nos aquecer. O inverno não dava tréguas, mas depressa chegou o Abril e a Páscoa, gasta na grande cidade de Istambul. Tempo gasto com prazer, naquela que já ficou uma das minhas cidades de eleição. Veio o Maio e com ele o bom tempo e, bem assim, com muito tempo gasto na praia. Junho e um pedacinho de Julho, foi gasto no grande projecto Kilimanjaro, uma dais coisas mais marcantes que fiz em toda a minha vida. Agosto, tempo para gastar as ferias, este ano em Portugal, que a troika não deu tréguas. Setembro corria ligeiro e seria um mês sem história, se não fosse a maldita avaria do carro, que me fez gastar mais uns trocados. Vinguei-me e gastei o resto do dia na praia, gastando ondas, dunas, e areia. Quando já se pensava que o verão estava gasto, veio o Outubro renasce-lo e, claro está, muitos dias gastos na praia sem querer sequer pensar no inverno. Mas o calor acabou por se gastar também e chegou um inverno tímido, seguramente gasto de outro lugar. O Novembro foi gasto a mil, e nem se deu conta. Agora, vejo que até o Dezembro se gastou e já estamos de novo quase em Janeiro. Assim se gastou o ano, cheio de coisas boas. Por isso bem gasto. Alguns exemplos? No meio das semanas atribuladas, mais ou menos 48, gastos também 48 fins-de-semana a fazer coisas boas: em casa, em família, e com amigos que gostam de nós, em jantaradas e almoçaradas, em copos de tinto e algum champanhe. Feitas as contas, e pensando que o ano tem 12 meses e que em média cada um tem 4 semanas e que em cada semana faço surf duas vezes mais ou menos duas horas por dia, significa que gastei mais de 190 horas a fazer surf. Mas as contas não ficam por aqui em matéria desportiva, já que a estas horas gastas, se junta mais umas tantas em ginásio e afins. Quatro horas por semana dá cerca de 200 horas . Ora se pensarmos que não estive gravemente doente, e que por isso não gastei mais do que umas quantas horas em médicos e afins, e que não devo ter ido mais do que 5 vezes ao dentista, o que dá 5 horas gastas! Saldo francamente positivo. O ano foi-se gastando e eu fico com a consciência que o exprimi, esgotei, usei, gastei mesmo até ao fim, tal qual pasta dos dentes que se dobra e redobra até sair o último bocadinho. Voltando à questão! 2011 foi pois gasto e ganho. Agora que chegou ao fim é tempo também de mudar de agenda, que esta já está gasta e de gastar algum tempo a pensar como vamos gastar 2012 para que, tal como 2011, seja um ano ganho.

Cairo, Primeiro e Terceiro Mundo


O Cairo é Terceiro Mundo, Segundo e Primeiro Mundo, mundo islâmico e mundo faraónico, mundo copta e mundo católico. Uma cidade que fervilha de vida e que abala todos os sentidos simultaneamente. 15.9 milhões de habitantes fundada em 969 para servir de capital do Egipto árabe, conquistada em 1517 pelos turcos, entre 1798 e 1801 foi ocupada pelos franceses. Hoje, também sede da Liga Árabe, mais do que uma cidade é um grande museu a céu aberto composto por uma mistura de antigo e moderno, que convive nos seus bairros, ruas, ruelas e becos. O Cairo religioso é cheio de vida e de contrastes, cosmopolita em culturas e gentes. Hoje as noticias que nos chegam do Cairo são menos boas. Os conflitos entre manifestantes favoráveis e contrários ao presidente egípcio Hosni Mubarak deixaram pelo menos cinco mortos na madrugada desta quinta-feira na Praça Tharir, palco de todos estes conflitos. O número de feridos já passa dos 1500 mil. Com a confirmação dessas mortes, o número de vítimas no período de incerteza política no país chegará a oito. Segundo CNN, os cavalos e camelos que puderam ser visto durante o confronto pertenciam aos trabalhadores das Pirâmides, que vêm os seus negócios definharem com a crise que assola o país a mais de uma semana. Na televisão ouvi Abdulla Hassan, pequeno empresário do ramo de hotelaria, lamentando a fraqueza do negócio ao observar, à distância, o que estava a acontecer. Em jeito de desculpa disse "Os turistas ocidentais gostam de visitar os nossos monumentos históricos mas não percebem que aqui no Egipto, em mais de 7 mil anos de história, nunca tivemos uma democracia".









onda perfeita


‎"Nada no mundo é permanente, e somos tolos em desejar que uma coisa perdure, mas mais tolos ainda seríamos se não a apreciássemos enquanto a temos."

Somerset Maugham

De terra estreita só tem o nome. Tavira, Algarve. Portugal

A praia da Terra Estreita na Ria Formosa não é secreta, mas é discreta e pouco conhecida. Escrevia o Fugas faz um ano. Nesta data Terra Estreita nada me dizia. Mas quis a Toika que a prudência nos invadisse os espíritos e que procurássemos outros destinos, mais perto e mais em conta. A troca promovida pela Troika não só foi justa como reveladora de uma descoberta. Situadas nas extremidades opostas de uma extensa ilha-barreira a sul de Tavira (uma das muitas que separa o mar da Ria Formosa), representam as duas faces de uma mesma moeda mas que encerram características diferentes. A praia do Barril, muito popular e concorrida; a da Terra Estreita (ou Santa Luzia), menos procurada e por isso mais desejada. Na praia do Barril, os edifícios tradicionais onde viviam e trabalhavam os pescadores, durante a faina do atum, mantêm a traça original, mas foram reconvertidos em bares, lojas e restaurantes. Numa duna próxima, dezenas de enormes âncoras que serviam para aprisionar o atum junto à costa são também testemunho desses tempos, desenhando uma só aparente acidental instalação artística. Apesar das enchentes junto à área concessionada, basta caminhar um pouco para se conseguir sossego. Já na Terra Estreita, tudo é bastante mais calmo. Para lá chegar é preciso apanhar o barco em Santa Luzia, num passeio pela ria que vale só por si. Custa barato e demora os dez minutos perfeitos para apreciar sem maçar. Para além da sua beleza natural, conta agora no Verão, com um apoio balnear que nos oferece muito para além das habituais actividades náuticas. A Terra Estreita é um lugar cheio de charme que se mostra desde que se desembarca e se entra no passadiço sobre as dunas. O caminho até junto do mar convida a respirar fundo para sentir o cheiro quente que anda no ar e a olhar para a natureza em redor. Chegados à praia ficámos encantados. Desde o areal extenso, à temperatura da água, tudo é fantástico. A praia da Terra Estreita é um retiro tranquilo próprio para banhos relaxantes num outro Algarve, também calmo e relaxante que se move ao sabor da brisa das noites de verão. A concessão da praia está a cargo da empresa A vida é bela que criou uma estrutura de apoio desmontável, para dar assistência aos clientes. Experience Beach é simples, eficaz e com muita classe. Tem ainda as virtualidades de ter muito boa música e empregados simpáticos, fazedores de umas caipirinhas divinais. Atentos aos detalhes, nem um sushi fresquinho nos faltará se for essa a nossa vontade. O último barco chega à ilha por volta das 8h15, já com o sol a cair no horizonte. Faz tantas viagens quantas necessárias para levar toda a gente para terra. Santa Luzia surge ao fundo já de luzes acesas espraiadas na ria a completar um perfeito dia de praia. Bom, bom, seria ter perdido o barco e por lá ficar a ver as estrelas e a ouvir o bater das ondas pela noite dentro.

“First you take the trip, and then the trip takes you”




É bém verdade. Mensagem do Phil Scalia ontem no curso de fotojornalismo.

O Carnaval da “menina” Ana


O Carnaval da menina Ana é assim há mais de 40 anos. Um quarto cheio de história e de cor, que cada ano salta dos baús para as cordas pronto para sair à rua. São fatos caseiros de aluguermelhorados de época para para época, que viram crescer os meninos da Rua José Falcão

Cada carnaval o quarto da menina Ana transforma-se num universo de fantasia. Máscaras para todos os gostos que já vestiram gerações.

Este é um fato marroquino “vindo mesmo de Marrocos. Foi o meu filho que comprou quando lá foi. Este ano não o aluguei. Agora as pessoas querem coisas diferentes”.

As máscaras falam por si. No quarto da menina Ana não encontramos nem homens aranha, nem as personagens do Toys story . Encontramos sim os velhos índios e cowboys, os palhaços ricos e pobres, bailarinas e mexicanos, dispostos ao lado de fotos antigas de meninos que já cresceram.



Um fato de noiva minhota e de nazarena, com as sete saias e tudo, feitos noutro tempo pela própria menina Ana.
Vestidos coloridos e adereços intemporais preenchem as cordas do quarto de carnaval prontos para mais um dia de folia

A menina Ana tem 81 anos. Aluga hoje os fatos de carnaval com a mesma alegria de sempre.
Fala-nos de cada um como se tivessem vida e de como os tempos agora são diferentes.


O Carnaval da menina Ana continuará igual até que os anos a deixem. Não se importa com os gostos nem com a modernidade dos tempos. Na quarta-feira de cinzas, a menina Ana voltará a guardar cuidadosamente cada fato e cada adereço nos baús. Desmancha as cordas e os cabides do quarto de carnaval improvisado e encerra mais um ano de folia.