A minha primeira vez?

Não, não tive a sorte de ter um pai surfista e de, por isso, dar os primeiros passos na praia rodeados de cheiro de neopren e de wax, em alguma carrinha pão de forma pintada de cores berrantes. Também não tive a de um irmão mais velho, a quem podia ter roubado as pranchas velhas e partir para a experiência até lhe provar que também era capaz. Pelo contrário. Apesar do ambiente propício e de estar no sítio certo na idade certa fui desencorajado e levado a desistir pelos perigos do mar que os outros me faziam querem que existiam. Foi preciso passarem mais de vinte cinco anos para voltar ao assunto. Até lá a vida não me foi fácil de afazeres e não deixei por mãos alheias outras experiências, outras viagens e outras tentativas. Até que, por mim, pela minha vida e pela minha vontade, chegou a vez do surf. Então sim, aos 40, porque não, entrei confiante no mar de prancha na mão, pronto para a minha primeira vez. Tarde? Julgo que não e menos ainda para por em prática um plano antigo. Senti a emoção dos tempos idos e confesso que a coisa e menos simples do que eu supunha, apesar de ter corrido bem. Mas o problema da primeira vez é que pode não a última mas efectivamente a primeira de muitas. Vou na minha terceira vez e já me sinto infectado. Digo infectado porque tenho um amigo bem mais novo que me dizia …espera só até o bichinho te morder. Na verdade, sinto que o surf é daquelas coisas que não nos deixa indiferentes e não nos deixa passar só por ele, pelo contrário, entra-nos debaixo da pele se não mesmo no sangue. Não escondo que para tudo isto muito contribuiu as pessoas que fui encontrando pelo caminho e que me cimentaram a confiança, numa coincidência que agora me parece incrível. Agora fico aqui à espera ansioso que seja outra vez outra vez sexta-feira para rumar à Costa da Caparica, faça sol ou faça chuva para mais uma aula de surf. Será mais uma hora a cair para depois remar de novo para fora e na onda a seguir, no momento a seguir, passar a secção e tentar acertar a manobra. O Surf, como tudo na vida, está repleto de imensa dificuldade e imprevisibilidade onde a palavra de ordem é “perseverança”. Quem sabe se é por isso que é tão atractivo. Este será o meu lema até ganhar confiança para me lançar nesta nova aventura de vida a solo.