Bandas sonoras vida

Será que isto faz algum sentido? Para mim faz. Hoje quando fazia de comboio a curta distancia entre Bruxelas e Tournai, na Bélgica tocou inesperadamente no meu iPod o James Yuill e a canção Taller Son do disco “Movement in a Storm. (www.youtube.com/watch?v=f4aP5E5WCbk ). Certo é que o tempo era de chuva, como quase sempre na Bélgica no Outono. Mas não foi isso que me surpreendeu nos minutos que durou o tema. Foi antes a capacidade impressionante que a música teve de alinhar de forma perfeita o ritmo do comboio e com o momento algo nostálgico provocado pela paisagem. Este tema, apesar de tendencialmente alegre, levou-me ao país e à cidade com um enorme intensidade. Sem querer dei conta que estava a sorrir enquanto olhava pela janela do comboio. Uma banda sonora perfeita para aquele instante. Olhando para o caminho feito (agora da vida) confirmo que foram tempos bons aqueles que passei na Bélgica, onde, nem o mau tempo que dizem fazer, prejudicou. A confirmação final veio quando se diz na canção. “starting thinking about the things I trully miss”. Será que me fazem mesmo falta. Não creio. Mas quando se tratam de boas recordações sentimos sempre a nostalgia do tempo. Prova provada. Existe sempre um momento para cada canção que mais tarde ou mais cedo nos aparece. Mais um exemplo? Não ouvia a versão da Grace Jones de “La vie en rose” há muito tempo. (www.youtube.com/watch?v=q1IYUvrn8gk) Este fim de semana ela apareceu-me do nada na festa de casamento de um amigo no meio de um fim de tarde perfeito e de um pôr-do-sol bonito, rodeado de sorrisos de alegria. Se o quadro já estava montado, a canção tornou o momento mágico. Algures no tema canta-se “Rien doit se perde dans la avie, vivre la vie en rose”. Naquele instante e naquele cenário de pura descontracção, estas palavras batem mais forte e acreditamos que a vida é curta de mais para perder ou desperdiçar o que quer que seja e que sim, se deve viver cada um com intensidade, a mesma que esta canção conseguiu dar a esta tarde tão especial. Eu que até já ia atrasado para os meus afazeres de Tournai, consegui desfrutar tudo daquela curta distancia de comboio e ter a evidência clara da parte cheia do copo. Voltado ao tema. Se ainda restam dúvidas sobre as bandas sonoras da vida, deixo um desafio um pouco mais arrojado. Deixem a hospedeira sentar-se e experimentem ouvir “Conforting Souds” dos Mew (www.youtube.com/watch?v=4JVUvC74D8w ) ao levantar voo, mas melhor, tentem acertar o momento da descolagem com as cargas de bateria e com o crescente da canção. Esta é imbatível.

Entre o dia 4 e o dia 5 - subida ao Adams Peak. Sri Lanka

O Hotel Slightly Chilled estava bastante abaixo na categoria quando comparado com os hotéis dos dias anteriores mais a Norte no Sri Lanka. Ainda assim, modesto, era um lugar charmoso de montanha com uma vista soberba. Tivemos uma refeição esplêndida nessa noite. O caril de frango e a salada estavam óptimos ainda que super picantes para o meu gosto (com chilis bombásticos). Tentei ir para a cama cedo mas não foi fácil adormecer. Foquei-me nos sons da natureza lá fora e libertei o meu corpo e o meu espírito. O despertador tocou à 1.30 da manhã e levantei-me para começar a subir o Adams Peak com a intenção de estar lá por volta das 6.00 para testemunhar o nascer do sol. Juntei-me a Bandu, o meu guia para Adams Peak. Entramos no trilho e começamos a subir o penoso caminho. Adam's Peak (ou monte Adam, ou ainda em linguagem local “Samanalakanda” – montanha borboleta) é uma montanha cónica de 2,243 metros de altura localizada na província central do Sri Lanka. É muito conhecida pela Sri Pada ou pegada secreta que supostamente estará impressa na formação rochosa perto do cume. Na tradição budista atribuída a Buda, na tradição hindu a Shiva, na cristã a S. Tomas e na Muçulmana a Adão. Mais uma lenda que prova que na sua essência as religiões se unem. Estava incrivelmente húmido quando começamos a subir e logo uns degraus depois demos conta que estávamos totalmente molhados de transpiração apesar de ser noite escura e a meio da madrugada. A subida não é difícil, mas longa, sobretudo porque na sua maioria se faz por grandes degraus de pedra. No total são cerca de 5.200 grandes degraus até ao topo. No Sri Lanka diz-se que somos tontos se não subirmos uma vez na vida o Adams peak, mas que somos muito mais tontos se o fizermos mais do que uma vez. Já para lá de meio caminho parei e bebi um chá reconfortante numa das várias bancas que se encotram pelo caminho, onde também comi um naan, um pão achatado feito no fogo, que me souberam pela vida. No trilho encontramos alguns estrangeiros que como eu exploravam este local, mas sobretudo partilhamos a nossa subida com peregrinos budistas que caminhavam em família, transportando presente e oferendas para Buda e para o santuário que se encontra no topo, entoando canções budistas para entreter as crianças, mas acima de aliviar o difícil do caminho. O percurso leva várias horas e estava muito movimentado, pois a época da peregrinação é justamente em Abril. Paro e olho para trás. Impressiona-me a quantidade de pessoas a caminhar e o rasto da iluminação que desce montanha abaixo deixando um rasto de luz e que nos lembra o esforço já feito. Ao nascer do sol os peregrinos assistem ao romper de mais um dia, dão graças a Buda por ele e celebram a Pooja, uma cerimónia de oferenda. Fomos bastante rápidos e chegamos um pouco antes de o sol nascer. Já no topo, a humidade que tivemos durante a subida perdeu-se e deu lugar a um vento frio de altitude. Vesti todas as roupas que tinha tirado e todas aquelas que levei comigo na mochila e que até aqui, durante toda a viagem ao Sri Lanka, ainda não tinham sido necessárias. Apreciei este local maravilhoso de gente e de tradição com tempo e com toda a serenidade que ele me mereceu. Por debaixo do templo há salas onde esperam os peregrinos e os seus familiares. Impressionou-me a quantidade de gente que ali dormia e que esperava a Pooja com dedicação. Impressionou-me a devoção a este Deus distante. O momento do nascer do sol foi mágico mesmo com a neblina. O sacudir das bandeiras de cor ao vento, evoca o divino e que joga com os cânticos e sinos que completam o cenário. Depois de o sol subir e se formos rápidos numa corrida para o outro lado da montanha, vimos ainda a sombra do Adam’s Peak numa forma de triângulo perfeito reflectido no solo. A subida ao Adam’s Peack foi um dos momentos altos da minha viagem ao Sri Lanka, pelo desafio da subida, pela atmosfera criada em torno dos peregrinos e pelo respeito que todos mostram por este local misterioso e exótico onde não se consegue ficar indiferente. Voltei á aldeia de manhã, exausto mas com uma sensação de leveza, pronto para mais um dia de descoberta deste Sri Lanka que me encantou.

Cheirou-me a despedida do Verão

Este fim-de-semana cheirou-me a despedida do Verão. Diferente do habitual, pois ontem o Sol foi bom e o mar até estava ameno. Comi um almoço fresco na varanda com uma luz que não faz crer um inverno próximo. Quem sabe. Comi, ri e bebi, com todos e com a satisfação de uma vida cheia. Foram sorrisos partilhados, alegrias conjuntas que para mim são na vida o que mais conta. Arrumei as cadeiras, despedi-me dos meus amigos da fila, este espaço tão especial, que só quem lá está o entende. Entristeci-me com o destino, fingindo que não lhe dava importância. Apetece-me escrever tanta coisa, mas faltam-me as palavras. Quem sabe amanhã ou depois, já renovado pelos dias de trabalho. Fico assim, á espera de nada e com esperança em tudo. Que o mundo nos dê tudo o que merecemos e que nós tenhamos a força para nada desperdiçar.

Histórias a Preto e Branco – Adam’s Peak, Sri Lanka 2010

Peregrinos protegidos do frio à espera da Pooja no topo do templo do Adam’s Peak.

Em viagem: Sri Lanka e Maldivas.

Já se chamou Taprobana, Serendib e Ceilão. Em 1972 voltou a adoptar o nome original - Lanka - ao qual juntaram o prefixo Sri, que expressa resplandecência e bons auspícios. A terra do chá, das paisagens maravilhosas, das praias enfeitadas com coqueiros e dos templos coloridos tem tudo para ser um paraíso terrestre. No Sri Lanka, só falta o bom entendimento entre cingaleses e tamil. Apesar dos problemas de segurança que têm afectado o Sri Lanka, o país continua a ser um extraordinário destino de viagem. As cidades de antigas de Anuradhapura, Polonnaruwa e Sigiriya - relíquias da Era Dourada do Sri Lanka -, o Parque Nacional Yala, a cidade fortaleza de Galle e as praias do Sul do país, para além da capital Colombo, são motivos mais que suficientes para pensar que vale a pena. Depois para completar umas férias de sonho e para relaxar nas suas praias magníficas, fazer mergulho ou passear de barco.... as Maldivas! Durante um longo período, a República das Maldivas foi um dos segredos mais bem guardados do mundo; uma cadeia de ilhas baixas de coral no Oceano Índico, um paraíso para os mergulhadores, entusiastas dos desportos aquáticos e amantes do sol. Terminamos por aqui antes que as alterações climáticas as levem. Vamos de viagem. Prometemos contar tudo.