Idaho Great, o juízo final

Regressava de mais uma gloriosa batalha, como das outras vezes, ele e o seu exército, tinham realizado uma performance notável, digna de um grande lutador. Capitão de batalhas e tréguas, Abílio Jirinofski, tinha um estatuto ímpar nos lutadores do universo e há muito que tinha ensinado os seus opositores a respeita-lo, de tal forma que já poucos existiam. A batalha ganha neste Setembro do ano de 2078 tinha-o consagrado um verdadeiro Mestre das Governações da Terra, e as dúvidas que pudessem existir tinham sida desfeitas. A terra passava um período difícil, as constantes mudanças provocadas por gerações descuidadas acrescentavam mais um passo à sua destruição, encurtando o caminho para o seu fim. Há muito que se tinham perdido os bons hábitos da década de 90, já não se ouvia falar de musica, quanto mais ouvi-la, as sucessivas ondas dos “entas”, já iam bem longe, sem que outras as substituíssem. De Manchester ou Seattle, já só os bastante antigos se lembravam, para não falar de coisas boas como, Cole, Cohen, e Cale, ou do mito, Bjorg. O verde já quase que não havia, a Terra era uma bola cinzenta, onde já não havia países, mas Governações, lideradas por homens austeros, que impunham ao seu povo o que outrora foi precioso, e que hoje era uma tortura total. Trabalho e mais trabalho era agora o lema, não a qualquer tipo de diversão, quais músicas, quais saídas à noite, nada, apenas trabalho. Homens como o nosso Capito Jirinofski, tinham tornado o mundo feio, sem piada, sem desportos radicais, sem música, sem borgas, sem nada. A batalha de hoje tinha sido num local onde noutros tempos havia uma grande e magnifica cidade, nos tempos que se vivia a sério, que se ia à praia, e se bebiam uns copos nas explanadas. A razão tinha sido mesmo essa, uma governação demasiado permissiva, que deixava o seu povo trabalhar e ainda divertir-se alguma coisa. Tal facto indignou profundamente, no só o Capitão Jírinofski, como todo o conselho das governações terrestres, desencadeando a dita batalha. De regresso, Abílio Jirinofski, no seu avião Air Extra Sonic, olha ao seu redor e vê que tudo está a ficar vermelho; pensou em primeiro lugar, que devia ser sua impressão, pois havia travado forte batalha, que o deixara exausto. Mas não. Ao seu redor, o que era vermelho foi aclarando passando a laranja, e de laranja a amarelo, um amarelo tão forte e intenso que o fez fechar os olhos por breves instantes. Foi ai que sentiu um forte embate, e ao abrir os olhos, encontrando-se ainda no coquepit do seu Air Sonic, estava sem efectuar qualquer comando, a aterrar. A máquina parou sem qualquer manobra. Olhou em volta, esfregou os olhos, e voltou a olhar! Tudo era diferente, nada era como o que estava habituado. Onde estaria? Perguntou a ele mesmo. Será que tinha morrido? Mas sentia-se tão vivo, e também não podia estar a sonhar. Já fora do Sonic, e após alguns passos, a paisagem estendia-se a perder de vista com o mar a cintilar, o brilhar do sol que se lhe impunha, intrigam-no cada vez mais. Sendo um conhecedor do Mundo, garante que naquelas paragens já mais havia estado. Poucas alternativas tinha senão seguir a estrada, longa e aparentemente sem fim, que ladeava o campo verde onde tinha aterrado o seu Sonic. Assim o fez. O Sol parecia brilhar cada vez mais, ou então era a sua fraca preparação física que começava a dar sinal. A fadiga era cada vez uma barreira mais difícil de transpor. Parou. Respirou fundo, olhou em frente, e já quando tinha desviado o olhar e se preparava para dar o próximo passo, voltou a olhar. Embora tenha duvidado, os seus olhos não lhe tinham mentido, ao fundo um aglomerado de casas se avistava. Abílio Jirinofski, parte, parecendo ter forças renovadas. As cores alegres dos edifícios deixam Abílio boquiaberto, questionando-se cada vez mais sobre o local onde estaria. A primeira referência - Idaho Great, Agora sim! Intrigado, baralhado e só para ele, sim, porque a um homem forte como Jirinofski, não fica bem dizer estas coisas… com medo. Fazia horas que andava às voltas, neste local, que parecia deserto. Sentou-se! O cansaço acumulado, fê-lo passar pelo sono, que um barulho estridente fê-lo acordar. Já todas as janelas estavam abertas e já circulavam pessoas na rua. Pessoas bonitas, com boas cores, fortes e saudáveis, que muito pouco tinham a ver com a Terra de 2078, do nosso Capitão Jirinofski. Ganhou coragem e questionou um homem que passava, sobre este estranho local. Depois de o olhar com ar desconfiado, explicou-lhe que se tratava de um lugar único, onde só estavam pessoas que tenham desempenhado papéis fundamentais na existência da Humanidade. Jirinofski questionou, Como por exemplo? Músicos, desportistas, exploradores, e alguns políticos, exclamou o homem. Jirinofskl perguntou ainda, então que faço eu aqui? O homem sorriu, ele próprio já tinha feito à um tempo esta questão a si mesmo. Pausadamente, este homem da mancha na careça que outrora tinha sido um político de mudança, convida-o a sentar e inicia a sua explicação. Diz-lhe que para este lugar ilustre só vêm grandes homens que aqui ficam para trocar experiências, para fazer nascer uma super sociedade, que um dia irá salvar a Terra. Todos chegam assim, sem saber porquê! Exclama. Mas nem todos ficam, a nobreza que os faz chegar, também pode ser de maldade, é a sua resistência á prova, que determinará se ficam ou não. Se for fraca, terão de partir. Prova! Qual prova? Pergunta Jirinofski. O homem explica: Cada um que chega é submetido a uma prova, um desafio, entre ele, e um dos nossos, alguém muito bom escolhido para o efeito, no seu caso, também um lutador, como o senhor. E se eu perder? Nesse caso volta para o lugar onde veio, voltará a nascer, ocupando o lugar mais baixo que existir, para não prejudicar o bom funcionamento do planeta. Ser assim do povo! Exclama assustado. Sim, ou escravo se existir, para que não possa Influir no poder, uma vez que não o merece. O homem abandona-o, ficando Jirinofski sem palavras para fazer qualquer comentário. A sua bravura não o deixa desistir, pois também não o podia fazer. Restava-lhe apenas aguardar até ao dia da decisão do seu parceiro de luta. Pouco havia para fazer neste local e rapidamente chegou o veredicto. O Capitão Abílio Jirinofski teria que se defrontar com o Infante D. Henrique. Setecentos anos depois do seu nascimento persistia um homem de espírito bravo, movido pela paixão de conhecer e pelo espírito de aventura. Já distante do cruzado que foi, há muito que se tinha deixado de naus e se voltara para outras aventuras. Ao parceiro de batalha tinha ainda sido deixada a tarefa de escolher a prova. O Infante sofreu as influências dos seus tempos, quando a vida era ela própria uma aventura. Por isto e para ele, agora só qualquer coisa igualmente arriscada e também de aventura. O infante escolhe um salto de “bungee jumping” de uma grande ponte, com direito a mergulho e tudo. Confiante, Jirinofski recebe a notícia, e de pronto tremeu dos pés à cabeça. Mal preparado fisicamente sabia que não ia resistir, desporto, era actividade que não constava na sua vida de grande líder de batalhas. O grande dia chegou, e ao ver caminha o na sua direcção Infante, perdeu qualquer tipo de ilusões. Então, é você que vai saltar comigo! Muito bem! exclama do Infante. Jirinofski estava gelado. Apesar de não estar habituado a ter receio das coisas, na verdade também nunca se tinha visto tão só, sem soldados, sem o seu Air Extra Sonic, sem armas, sem nada. Estava verdadeiramente entalado. O assistente do Infante, um homem de aspecto sempre jovem, músico de profissão, em tempos famoso por baladas e canções de rádio, inicia os preparativos. Primeiro o Infante, cinta de apoio, uma perna, outra perna, ilhós do elástico, já está. Agora o grande Capitão Abílio Jirinofski. Sting inicia o mesmo processo, cinta de apoio, uma perna, outra perna. Ilhós do elástico, 0K, pronto para saltar. Tudo pronto, Um, Dois, ... Abílio Jirinofski fixa o rio lá em baixo, ao mesmo tempo que perde todas as suas forças. O negro brilhante do rio, quase que o cega, e este mesmo negro, passa a um tom rosa, de rosa a vermelho, de vermelho a laranja e de laranja a um amarelo tão forte que o obriga a fechar os olhos. Derrotado. Não teve tempo para pensar em nada e abre os olhos. Em vez de elástico à cintura tinha o seu arnês de protecção de sempre, a paisagem parecia menos bonita, apesar do sol brilhar em fim de dia no horizonte. Estava apenas no cimo da ponte, com um martelo pneumático na mão. Desta vez, não necessitou de se questionar muito, tinha sido vencido pelos sonhos. O velho Capitão Abílio Jirinofski, não é mais Capitão e muito menos o Mestre das Governações da Terra, é apenas um operário, como tantos outros, nesta ponte que parece não ter mais fim.