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Desde que aterramos em terras do continente sul-americano (Buenos Aires), percorremos mais de 9.000 kms, entre avião, carro e alguns barcos. Em apenas dois países (Argentina e Chile), saltamos dois fusos horários e cruzamos várias zonas climáticas. Viajamos de Buenos Aires ate ao sul do mundo Terra do Fogo (Ushuaia) a uns escassos kms do continente Antárctico, para daí continuar para a Patagónia (Porto Natales e Punta Arenas) terra insólita e incrivelmente solitária. Daí, ainda para o norte do Chile, terminando apenas a 7 km da Bolívia, em pleno altiplano andino, onde o ar e pouco e nos custa a respirar.
Fomos do nível do mar, aos 4.350 metros de altitude, no coração dos Andes Chilenos; dos -8 graus - Inverno puro, aos 35 graus - Verão tropical, obrigando o nosso corpo a alterações constantes e sobretudo a uma diversidade de bagagem indescritível. Do percurso, fica-nos na memoria idêntica diversidade: as grandes massas de gelo, os lagos sem fim, os fiordes que tocam os céus, os vulcões em actividade, os géisers que jorram águas escaldantes das entranhas da terra, os desertos secos, os lugares insólitos e solitários e os espaços imensos que nos custam a classificar.
No sul do mundo, vimos grandes glaciares, mares onde icebergs (têmpanos chamam-lhe por lá) flutuam e onde os leões-marinhos e as focas são efectivamente os reis (mais não seja pela sua adaptação natural a um ambiente tão hostil) e florestas vistosas onde os grandes lagos se misturam com as montanhas nevadas. O caso do Parque Nacional da Terra do Fogo, que mesmo os dias de neve não fizeram perder o encanto. Quanto ao facto de ser efectivamente o "fim do mundo", ficaram-nos algumas dúvidas, já que ainda temos a Antártida por descobrir.
Num salto de gigante, mas que num país tão grande perde significado, encontramo-nos com as belezas patagónicas, numa mistura de estepe e de montanhas, que só o ver nos faz crer. Aqui, os animais do sul, dão o lugar aos milhares de ovelhas e guanacos (uma espécie de Lama do sul) povoando ora as estepes ora o lugar encantado que é o Parque Nacional das Torres del Paine.
Após uma visita curta a capital, Santiago do Chile, rumamos ao grande deserto de Atacama, estabelecendo base em San Pedro de Atacama. Esta é sem duvida a terra do nada, mas que ao mesmo tempo é detentora de uma paisagem única. É o lugar mais seco da terra e ao mesmo tempo o lugar onde o céu nocturno é mais bonito, pelo facto de praticamente não haver humidade no ar, poluição ou mesmo luz eléctrica. Daqui, fica-nos a memória de um espaço enorme, da presença imponente dos Andes e dos flamingos rosas dos lagos de sal do Salar de Atacama. De facto, a geografia dos grandes espaços, tem aqui o seu apogeu.
Depois foi o longo e penoso regresso! Trazemos na nossas memorias um conjunto de recordações que já nos fazem saudades e na bagagem perto de 1000 fotos que nos vão ajudar a não esquecer estes 15 dias que, seguramente, valeram por muito mais. Afinal não é este o gosto de viajar? Fica a promessa de partilhar neste espaço mais alguns relatos desta maravilhosa viagem e algumas fotos, testemunhos, destas paisagens e desta aventura.